DESEJO DE PAISAGEM
Depois de tantos anos com a atenção voltada para as paisagens urbanas com exposições como “Poética urbana em tempo de eleições”, ou séries de trabalhos como “Memórias urbanas” e “Outdoors”, a atenção de Mangiavacchi se volta, com esta nova exposição, para as paisagens naturais que tanto o encantaram desde logo, quando da sua “descoberta” do
Brasil em 1970.
Não é possível viver no Brasil, no Rio de Janeiro e ignorar as suas paisagens. É impossível não ficar deslumbrado com a sua natureza poderosa que agora emerge, com toda a imponência das suas graníticas montanhas, nos trabalhos desta exposição.
Desde 2005, Mangiavacchi vem desenvolvendo uma temática onde o anel é escolhido como
forma de expressão, símbolo de união e comunhão, de ligação, de casamento, de status, de infinito. O anel passa, desde então, a ser o único elemento para a construção de um vocabulário pictórico com o qual realizar uma exploração exaustiva da forma anelar nas mais
variadas possibilidades de expressão.
Nesta exposição os anéis se fundem com a paisagem, fazem parte da metapaisagem,
isto é, o que está além da paisagem visível.
Os anéis são o elo de ligação entre o que se vê e o que se sente.
Os anéis são o símbolo de distinção entre o se sabe e o que se imagina.
Desejo de paisagem:
É imaginar as poderosas forças telúricas que moldaram essas formas tão assombrosas e
ao mesmo tempo tão sensuais.
É imaginar essas ondas de magma líquido fervente, efervescente se fixando nessas imponentes formas graníticas.
É imaginar de recriar, com o gesto enlouquecido das chicotadas dos pincéis remexendo na massa das cores, as mesmas forças descontroladas que moldaram essas formas gigantes da natureza.
É imaginar essas protopaisagens antes mesmo que a vida começasse na sua superfície.
Desejo de paisagem.
Texto de Adriano Mangiavacchi para o catálogo da exposição na Galeria Marcia Barrozo do Amaral em julho de 2016.